31 de agosto de 2010

Mostra Nacional de Teatro – 2010

O Grupo Tripé na Mostra...

No dia 09 de março o Grupo Tripé se apresentou na Mostra Nacional de Teatro no Terminal Central. A proposta estética do grupo nasceu de um diálogo entre dança contemporânea e teatro e o processo de criação sempre esteve permeado de uma discussão a cerca dos espaços urbanos em suas formas e conteúdos. O ritmo frenético da cidade reverbera nos corpos dos bailarinos/intérpretes que em sintonia com os fluxos da cidade se deslocam e dançam.






O espetáculo apresentado na Mostra Nacional de Teatro foi o Quanté, criado em 2009 com recursos da Lei Municipal de Incentivo a Cultura, sob a concepção artística de Getúlio Góis, num processo de criação colaborativa. O grupo circulou com o trabalho em novembro de 2009 em seis bairros da cidade de Uberlândia-MG, entre terminais de ônibus, praças e parques municipais. Isso, pois, o espetáculo foi concebido para espaços públicos de passagem onde os fluxos da vida urbana, com suas lógicas de consumo, ocorressem de maneira latente de modo a influenciar e estimular o trabalho estético proposto.




Dessa maneira, a coexistência entre o processo criativo e os espaços públicos de passagem, ocorreu em todas as etapas do trabalho. O grupo realizou trabalhos de campo para observação, registro (fotográficos, sonoro, etc) e laboratórios de experimentação e criação. Ao final do processo os espaços investigados serviram também de palco para as apresentações.



O grupo definiu esse conjunto de estratégias de experimentação e criação com o objetivo de não invadir ou mesmo confrontar com as realidades dos espaços propostos, mas sim assimilar seus estímulos e trabalhar com uma linguagem acessível para todos os públicos. O grupo decidiu, portanto, fazer dança contemporânea não, necessariamente, à um público que já vai ao teatro assisti-la. Pelo contrário, com as apresentações em espaços cotidianos da cidade, o grupo optou por atingir, no geral, um público não frequentador das salas de teatro.



Fazendo referência aos “sacoleiros” os bailarinos/intérpretes utilizam como objeto de cena algumas sacolas (bem grandes, como aquelas própria de quem traz mercadorias do Paraguai) e como cenário, o próprio fluxo de pessoas, cores e sons que preenchem esses espaços cotidianos distribuídos em pequenos centros de comércio, de lazer e de passagem.



Algo bastante comentado pelos debatedores foi a solução dada para o transporte do aparelho de som que tocava a trilha sonora do espetáculo. A solução surgiu ao observarmos a rotina e as soluções dos próprios comerciantes informais (de rua) para esses impasses. Soluções muito criativas, por sinal. A construção de algumas cenas e textos também partiu dessa observação atenta e quase cotidiana. O comércio informal, tão presente nas paisagens urbanas foi, então, a temática central desde trabalho.



O espetáculo desloca-se no espaço e segundo os próprios debatedores (convidados para a programação da Mostra), vai trazendo códigos para o público que começa a acompanhar a apresentação. Portanto, sem a ideia de invasão ou mesmo confronto com esses espaços, mas sim de composição, de diálogo, ora linear ora não, uma curiosa intertextualidade entre espetáculo e realidade.



Conforme observado, por um dos três debatedores ali presentes, o Quanté não possui uma linha narrativa estabelecida, porém, possui uma lógica bastante interessante. Como as cenas são independentes umas das outras, o trabalho faz sentido tanto para aqueles que quiserem acompanhar do início ao fim, como também para aqueles que assistirem apenas fragmentos.



Com uma linguagem recheada de elementos do universo popular, o espetáculo chama atenção de um público bastante diverso, de crianças a idosos, de artistas à operários. Entre elementos cômicos e às vezes de apreensão, o resultado estético desse trabalho aglutina pessoas que se divertem e as vezes se emocionam no decorrer de um trajeto banal e bem próprio do cotidiano. Ao final de um dia de trabalho, um operário uniformizado abraça os artistas do grupo dizendo que naquele dia chegaria em casa mais feliz. Enfim, a avaliação do público e dos debatedores foi muito positiva e de certa forma, instigou o grupo a prosseguir com essa linha de pesquisa.



Partituras coreográficas com pitadas de improvisação. Muito jogo com o público e com os espaços escolhidos para cada uma das cenas. Sem a pretensão de compartilhar qualquer crítica sistemática quanto ao modo de vida de urbano, o Quanté reflete sobre o cotidiano e talvez, por isso, chegou aos olhos de pessoas que a partir de então reconheceram-se e divertiram-se num espetáculo de Dança Contemporânea. O grupo optou por não dizer sobre as realidades postas, mas apenas vivenciá-las com mais atenção.















Nosso muito obrigado à produção da Mostra Nacional de Teatro 2010 e a aqueles que assistiram o espetáculo Quanté, contribuindo tão atenciosamente com o trabalho apresentado.


Relato: Poliana Diniz